Mas É provável que
tenhamos apenas uma visão parcial de suas crenças, porque os escritos dos
cátaros foram em grande parte destruídos por causa da ameaça doutrinária
percebida pelo papado. Muito dos nossos conhecimentos dos cátaros é derivado de
textos de seus adversários. As conclusões sobre a ideologia dos cátaros
continuam a ser ferozmente debatidas com comentaristas acusando seus
adversários de especulação, distorção e preconceito. Existem alguns textos dos
próprios cátaros que foram preservados por seus adversários. Um grande texto
que sobreviveu O Livro dos Dois Princípios - Liber de duobus principiis, elabora
os princípios da teologia dualista a partir do ponto de vista de alguns dos
albanenses cátaros. O catarismo histórico não surgiu até pelo menos 1143,
quando o primeiro relato confirmado de um grupo defendendo crenças similares é
relatado ser ativo em Colónia pelo clérigo Eberwin de Steinfeld. Um marco na
"história institucional" dos cátaros foi o Conselho de Saint-Félix,
realizado em 1167 em Saint-Félix-Lauragais, com a presença de muitas figuras
locais e também pelo "papa" do bogomilo, Nicetas, o bispo cátaro da
França e um líder dos cátaros de Lombardia. Os cátaros, em geral, formavam um
partido anti-sacerdotal em oposição à Igreja Católica, protestando contra o que
consideravam ser a corrupção moral, espiritual e política da Igreja. Em contraste com a
Igreja Católica, os cátaros, tinham apenas um sacramento, o Consolamentum, ou
Consolação que envolvia uma breve cerimônia espiritual para remover todo o
pecado do crente e empossar-lhe para o próximo nível superior como um perfeito.
Ao contrário da Penitência católica romana, o Consolamentum só poderia ser
tomada apenas uma vez. Assim, tem sido alegado que muitos crentes acabariam por
receber o Consolamentum apenas quando a morte se aproximava, realizando o
ritual de libertação num momento em que as obrigações pesadas de pureza
exigidas para ser um perfecti seriam temporalmente curtas. Algumas das pessoas
que receberam o consolamentum em seus leitos de morte podem, posteriormente,
evitar comida ou bebida, a fim de acelerar a morte. Isso era chamado de endura.
Os cátaros também recusavam o sacramento católico da Eucaristia dizendo que não
poderia ser o corpo de Cristo. Eles também se recusaram a participar da prática
de Batismo pela água. Sobre o batismo, afirmam que a água é material e
corruptível, portanto é criação do mal, não pode santificar a alma, mas os
clérigos vendem essa água por avareza, mesma forma que vendem a terra para o
enterro dos mortos e o óleo para o doente para ungi-los e, assim também eles
vendem a confissão dos pecados como fazem os sacerdotes. Alguns acreditam que a
concepção cátara de Jesus se assemelhava ao monarquianismo. Os cátaros
ensinavam que para recuperar o estatuto angelical a pessoa deveria renunciar completamente
ao mundo material. Até que não estivesse preparado para fazê-lo,o cristão estaria
preso em um ciclo de reencarnação, condenado a viver na Terra corrompida. Os
supostos textos sagrados dos cátaros, além do Novo Testamento, incluem O
Evangelho da Ceia Secreta, ou o Interrogatório de João e O Livro dos dois
Princípios. Durante o concílio de Narbona, o Papa Gregório IX fez decretar a
aplicação de penas muito duras a todos os simpatizantes e colaboradores do
catarismo, que incluía perda sumária de bens patrimoniais e humilhantes surras
em público.
No século 11, o povo
de Languedoc, no sul da França repudiaram a Igreja Católica,por eles chamada de
Igreja dos Lobos, e fundaram um cristianismo alternativo: o Catarismo. Os
cátaros formaram a sociedade secreta mais “Popular” da Idade Média. Eles se
julgavam herdeiros dos apóstolos e foram condenados por isso. A história dos
cátaros teve um início obscuro. Em 1022, dois monges que nada tinham a ver com
o movimento foram queimados vivos, acusados de adorar o Diabo. O bispo do
condado de Toulouse, o maior da região de Languedoc, condenou a execução.
Secretamente, ele e outros membros da Igreja já vinham discutindo idéias pouco ortodoxas.
Acreditavam num Deus que era Puro Espírito. E que a criação era obra maléfica,
não divina. No século 12, 4 paróquias de Languedoc abandonaram o
credo católico, abraçando as novas idéias: Toulouse, Carcassone, Albi e Agen.
Por causa das duas últimas, o movimento acabou sendo chamado também de albigense.
A palavra “cátaro”,só entrou para o vocabulário medieval por volta de 1160,
graças a um pregador católico da Renânia chamado Eckbert de Schönau detrator da
seita. Segundo Alain de Lille, um teólogo francês do século 13, sua origem
estaria na palavra catus (gato em latim), pois os seguidores da seita faziam
coisas ignóbeis como beijar o traseiro de gatos. Os
novos fiéis se autodenominavam bons hommes e bonnes femmes (bons homens e boas
mulheres). Os padres se vestiam com hábitos negros. Rejeitavam o dogma da
Santíssima Trindade e também os sacramentos, como o batismo, a eucaristia e o
matrimônio. E viam com naturalidade o sexo fora do casamento. “Se a castidade
não pudesse ser priorizada, era melhor manter encontros casuais do que
regularizar oficialmente o Mal". A nova
crença também arregimentou adeptos na Catalunha, na Alemanha, na Inglaterra e
na Itália. Roma tentou conter o catarismo na base da conversa até meados do
século 12. Quando o papa Inocêncio 3º assumiu, em 1198, a atitude da Igreja
endureceu. Inocêncio suspendeu diversos bispos do sul da França. Em 1208, o
representante eclesiástico Pierre de Castelnau excomungou um nobre de Toulouse.
Em represália, foi assassinado. O incidente foi a
gota d’água. No mesmo ano, o Vaticano autorizou uma guerra santa contra Languedoc.
A primeira e última cruzada contra cristãos da história. No cerco a Béziers, em
julho de 1209, 7 mil fiéis foram chacinados, entre eles mulheres e crianças. Em
1244, 200 cátaros foram queimados vivos numa grande fogueira nas redondezas da
fortaleza de Montségur. A tortura era generalizada. O interrogador católico
Guilhem Sais, certa vez, afogou uma mulher cátara num barril de vinho, pois ela
não queria confessar seus supostos pecados. A Igreja precisou de décadas, mas
conseguiu varrer os cátaros da face da terra. Mas no coração dos habitantes de
Languedoc a seita sobreviveu. O povo daquela região em cidades como
Montpellier e Toulouse eles viraram até Nome de Rua.
Os Cátaros afirmavam a
igualdade entre mulheres e homens. E por isso foram vítimas de uma cruzada e
alvo da Inquisição. Eles chegam à pequena vila sem causar nenhum
alarde. Após percorrer centenas de quilômetros a pé, seus calçados se
deterioraram. Têm a cabeça raspada e vestem-se de forma maltrapilha, com uma
longa batina de cor negra presa por uma tira fina de couro. Após uma recepção
praticamente inexistente, eles começam a ser reconhecidos e respeitados pela
comunidade. Em pouco tempo, se tornarão líderes religiosos capazes de fazer
frente à influência da poderosa Igreja Católica. No fim do século 12, se
tornariam cada vez mais comuns na ampla região do Languedoc, da França.
Cidade após cidade, os cátaros iam espalhando sua fé, baseada na simplicidade e
na busca da pureza,pois katharos, em grego, significa puro. A religião nasceu do
cristianismo, mas era marcada por profundas diferenças em relação às doutrinas
do Vaticano. Acusados de heresia e até chamados de adoradores do diabo, os
cátaros provocaram uma implacável reação do papado. O esforço para eliminá-los
incluiu uma cruzada e foi um dos principais motivos para a criação do Tribunal
do Santo Ofício mais conhecido como Inquisição. No século 14, cerca de 200 anos
após o catarismo ter surgido, seus últimos representantes foram varridos do
mapa. Para entender a intensidade da violência promovida pela Igreja Católica
contra eles, é fundamental compreender como os cátaros foram capazes de
conquistar os corações e as mentes medievais. E sua brutal eliminação é um dos
exemplos mais bem acabados do incrível poder do papado no Mundo. O primeiro grupo
cátaro conhecido apareceu na década de 1120, na cidade de Limousin. Logo eles
chegaram a povoados próximos, como Albi, Toulouse e Carcassonne, sempre no
Languedoc. A região, separada do resto do território francês pelas montanhas
dos Pirineus, era governada pela dinastia dos Raimundos. Eram terras prósperas,
fortes na agricultura e na indústria têxtil. À primeira vista, seria difícil
prever que num local tão estável, e religioso pudesse surgir uma crença que
desafiasse a Igreja. Mas, àquela altura, a sociedade medieval estava passando
por importantes transformações. A Europa vivia uma fase de aumento populacional
e melhoria das condições de vida, com o desenvolvimento das cidades medievais.
No ambiente urbano, aumentava o contato entre as pessoas e a busca pelo
conhecimento. Uma parcela da população começou então a refletir sobre várias
questões, entre elas a própria fé. Na origem da expansão do cristianismo, que
ocorrera cerca de nove séculos antes, estavam valores como a pobreza, o
sofrimento pessoal e a sensação de unidade com Deus. Por volta do século 11,
entretanto, a situação do clero não era exatamente essa. Por todo lado,
construíam grandes edifícios religiosos, magnificamente ornamentados, alguns
deles deram início ao estilo que ficaria conhecido como “gótico”, que
caracteriza algumas das principais catedrais da Europa. Além disso, os
sacerdotes cristãos sobretudo os bispos e seus representantes locais, os padres
usavam os fartos recursos da Igreja para garantir a si mesmos uma vida
tranqüila. A imagem típica do cristianismo, aquele Jesus magro, de olhar triste
e agonizando na cruz, era apenas uma vaga recordação o perfil do clero estava
mais próximo do bispo rechonchudo de roupas vistosas e dedos ornados com varias
jóias. Diante das contradições da Igreja, a influência dos cátaros avançava
rapidamente.
Em 1167, alguns deles se reuniram no encontro que marcou o
nascimento oficial da nova religião: o concílio de Saint-Félix-de-Caraman hoje
Saint-Félix-Lauragais, no sul da França. Compareceram cátaros não só do
Languedoc, mas de áreas mais distantes como a Lombardia na atual Itália, e a
Catalunha hoje na Espanha. Muito pouco se sabe sobre o que ocorreu na reunião.
Ela provavelmente foi presidida por um homem chamado Nicetas um cristão
dissidente vindo de Constantinopla e apelidado de “papa” e organizou as bases
do catarismo. Para os cátaros, o livro sagrado era a Bíblia em particular o
Novo Testamento. Sua religião, entretanto, divergia muito do catolicismo. O
princípio fundamental era o dualismo: segundo ele, o mundo seria composto de
dois reinos opostos e coexistentes. O primeiro, comandado por Deus, seria
invisível e luminoso, onde só existiria o bem. Já o segundo reino, material e
visível, seriam controlados pelo diabo. Em outras palavras: segundo o
catarismo, o inferno ficava na Terra. E o objetivo da vida humana seria escapar
do mal através da purificação dos espíritos, reencarnação após reencarnação. Se
isso fosse feito, quando chegasse o Juízo Final, todos se salvariam e iriam
para o reino de Deus. Apesar de se considerarem cristãos, os cátaros não
acreditavam que Jesus fosse filho de Deus. Ele era apenas considerado um
profeta importante, que havia divulgado alguns ideais que mereciam ser
seguidos. Assim como a teoria, a prática dos cátaros era bem diferente da dos
católicos. Eles recusavam o ritual da hóstia sagrada, em suas cerimônias,
bastante simples, havia apenas a repartição do pão. Tampouco aceitavam o papel
subalterno que o papado romano reservava para as mulheres, para o catarismo o
ser humano não admitia distinção entre sexos. A elas era permitido, inclusive,
celebrar ritos religiosos. A autoridade do papa não era
reconhecida pelos cátaros. Sem uma liderança espiritual única, eles dividiam os
seguidores da religião em três níveis. O mais alto deles era o dos Perfeitos,
também conhecidos como “bons homens”. Para chegar a esse posto, era preciso
passar por duras provas e receber o Consolamentum, o único sacramento cátaro
que resumia num só o batismo, a ordenação e a extrema-unção. Os Perfeitos eram
celibatários e passavam grande parte dos dias em oração e jejum. Abaixo dos
Perfeitos estavam os Crentes, categoria que reunia a grande maioria dos
cátaros. Eles comungavam das práticas de virtude e humildade, mas não estavam
obrigados a qualquer tipo de abstinência. Podiam casar, embora preferissem o
concubinato e só tinham direito a receber o Consolamentum na hora da morte. O
terceiro nível da sociedade cátara era composto pelos Ouvintes. Simpatizantes
da religião, eles acompanhavam as palestras,e se curvavam perante
eles para receber a bênção. Na virada do século 13, o avanço dos cátaros havia
se tornado a maior preocupação da Igreja.
“Matem-nos todos.
Deus saberá reconhecer os seus!” De acordo com alguns registros, foi com essas
palavras que o abade Arnoldo de Amaury incitou à aniquilação total dos cátaros
que se escondiam na fortaleza de Béziers, no Languedoc, em julho de 1209. Ela
resume bem o espírito da sangrenta Cruzada Albigense graças à grande
concentração de cátaros na cidade de Albi, eles também eram conhecidos como “albigenses”. A Igreja tentou
combater o catarismo no campo da fé. Há relatos de que, entre 1165 e 1198, os
cátaros foram perseguidos publicamente em locais como: Lombers (França), Colônia (Alemanha) e
Oxford (Inglaterra). Para ouvir e julgar os hereges, a Igreja montou tribunais
eclesiásticos. Graças à experiência dos cátaros como oradores, entretanto, eles
se defenderam brilhantemente das acusações e viram sua fé ganhar status de
religião. E o prestígio dos Cátaros saiu fortalecido. Diante da contínua perda
de fiéis, o papa Inocêncio III decretou o confisco dos bens de todos aqueles
considerados hereges. Sua vontade foi cumprida por todos os cantos da Europa.
Exceto no Languedoc, onde os governantes se recusaram a agir contra os cátaros.
A alternativa encontrada pelo pontífice foi montar uma verdadeira força-tarefa:
ordenou que os clérigos se unissem aos pregadores dominicanos para, em
conjunto, redobrar a batalha pela fé no Languedoc. Sacerdotes católicos se
misturaram aos Perfeitos nas ruas, mas pouca coisa parecia mudar. Até que um
crime selou o destino dos cátaros. Em 1208, o legado
papal que era a figura máxima da hierarquia da Igreja na região, representante
direto do pontífice, Pedro de Castelnau foi morto por alguns habitantes de
Toulouse. Logo correu a notícia de que os assassinos eram supostamente cátaros.
Inocêncio III teve então a deixa de que precisava. Em 10 de março, organizou
uma cruzada liderada por Arnoldo de Amaury e pelo bispo Folquet de Marselha. No
campo de batalha, o comando coube a Simão de Montfort, à frente de um exército
com 10 mil homens. Além dos cátaros, o alvo da cruzada foram os principais
nobres que davam proteção a eles: o conde Raimundo VI de Toulouse e o visconde
Raimundo Rogério de Trencavel. O primeiro grande ataque, em Béziers,
surpreendeu pela violência intensa e indiscriminada. Cátaros e católicos, todos
foram massacrados pelos cruzados. Os cruzados não mostravam clemência. Mulheres
e crianças amontoaram-se na igreja de Santa Maria Madalena, na parte alta da
cidade. Deveriam ter sido à volta de mil, um cálculo baseado na capacidade da
igreja. Fossem quantos fossem, a igreja estava apinhada de aterrorizados
católicos e cátaros quando os cruzados derrubaram os portões e massacraram
todos os que ali se encontravam. Em 1840, durante uma reforma do templo, várias
ossadas foram descobertas sob o piso. Em Béziers, 20 mil
pessoas foram mortas, praticamente toda a população da cidade. Depois disso, os
cruzados destroçaram Carcassonne, Bram, Minerve, Termes e Lavaur, ignorando quaisquer
tentativas de rendição. Como recompensa pelo extermínio dos hereges, os
cruzados ganharam o perdão pelos seus pecados e puderam repartir entre si as
riquezas e terras do Languedoc. A carnificina só parou em 1229, quando foi
celebrado o tratado de paz de Meaux-Paris, entre Raimundo VII de Toulouse e o
rei Luís IX da França. Inocêncio III morreu sem ter conseguido extinguir o
catarismo. A tarefa coube a seu sucessor, Gregório IX, que assumira em 1227.
Com a situação aparentemente controlada em termos militares, o papa teve uma
idéia que seria decisiva para a história dos séculos seguintes. Em 1231, por
meio da bula Excommunicamus, criou a Santa Inquisição. E a caça aos cátaros foi
uma das principais razões para a novidade. Afinal, após anos de perseguição,
eles haviam mudado sua maneira de agir. Agora, os Perfeitos misturavam-se à
população, sem usar a tradicional veste negra. Para facilitar a identificação dos cátaros, a
Inquisição empregava métodos sofisticados e sórdidos de interrogatório e
investigação.
Enfim Galera...A última ação militar
contra os cátaros foi o cerco a Montségur, em 1243. Naquela época, a Inquisição
já havia provado sua eficácia para eliminar seletivamente os hereges. Depois
das condenações nos tribunais inquisitórios, a Igreja usava o “fogo purificador”:
de acordo com o discurso oficial, a morte na fogueira seria a única forma de
salvar as almas dos cátaros. Encurralados, os cátaros eram colocados diante da
seguinte escolha: negar sua fé ou enfrentar a fogueira. De uma forma ou de
outra, a religião ia sendo exterminada. Em 1321, foi executado o último
sacerdote cátaro conhecido, Guillaume Bélibaste, que havia se refugiado no
oeste da Espanha. Cerca de um século depois, já não se ouvia mais falar de
seguidores do catarismo. Terminava assim a trajetória dos contestadores que,
com humildade de caráter e simplicidade de métodos, haviam conquistado o
respeito do povo da mesma forma que os primeiros cristãos haviam feito, 12
séculos antes, na Palestina. Vlw Galera ate.